Uma grande porcentagem de produtores (as) no Estado de Rondônia pratica agricultura convencional. Seu modelo é pautado no uso elevado de insumos externos principalmente agrotóxicos, adubos minerais solúveis, sementes híbridas e etc. Contudo, esse modelo, além do custo elevado, é poluidor e também apresenta altos riscos para o produtor (a), por isso não são duradouros.
Mas, outro modelo mais sustentável do ponto de vista sócio-econômico e agro-ambiental, onde são empregados processos ao invés de produtos, tem resultado em maior sanidade e estabilidade da produção e menor custo: os sistemas de produção Agroecológica. Nesses sistemas o controle das pragas e doenças, é baseado no equilíbrio nutricional (químico e fisiológico) da planta, buscando-se uma maior resistência da planta pelo seu equilíbrio energético e metabólico e uma maior atividade biodinâmica no solo.
EXPERIÊNCIA DA FAMÍLIA VENDRÚSCULO
Na prática, a realidade da Agroecologia já é percebida nos agroecossistemas olerícolas aonde o modelo convencional vem sendo substituído pela prática de processos vivos. Um exemplo dessa realidade é o da família Vendrúscolo em Rolim de Moura (família acompanhada pelo PROJETO TERRA SEM MALES) que há 12 anos trabalham em uma propriedade diversificada de 14 hectares com a Agroecologia, onde 1 hectare é dedicado ao cultivo de hortaliças Agroecológicas, com rotação de culturas, cobertura morta, quebra-vento, recuperação do solo com o uso das leguminosas, consorciação das hortaliças, cultivo das suas próprias sementes, uso de biofertilizantes, etc.
A família afirma que seu custo de produção por pé de hortaliça gira entorno de R$ 0,06 por produção e que a alface no tempo da seca leva de 23 a 25 dias para colheita após transplante nos canteiros. Esse fato se deve ao emprego de produtos microbianos, como os biofertilizantes líquidos, e outros fermentados à base de microorganismos eficientes. Os biofertilizantes se destacam por serem de alta atividade microbiana e bioativa e capaz de produzir maior proteção e resistência à planta contra o ataque de agentes externos (pragas e doenças). Além disso, esses compostos quando aplicados, também atuam nutricionalmente sobre o metabolismo vegetal e na ciclagem de nutrientes no solo. Eles podem ser biofertilizantes foliares e do solo. São de baixo custo e podem ser fabricados na propriedade pelo produtor (a).
SEGREDOS DA FAMÍLIA VENDRÚSCULO...
A família repassa a experiência que tem com o uso do biofertilizante rico em N e K adaptado do livro de Horticultura Orgânica do pesquisador Jacimar Luiz de Souza, há dois anos.
RECEITA
10 Kg de esterco bovino ou composto
10 Kg de mamona triturada (semente, folha, galho, raiz)
2 Kg de cinza
2 litros de urina de vaca
5 Kg de tronco da bananeira picada
200 litros de água
Modo de Preparo:
Em um tambor de plástico de 200l misturar toda a matéria-prima, juntamente da água, mexendo em sentido horário de 5 a 10 minutos três vezes ao dia para não exalar nenhum odor desagradável. Não há necessidade de fechar o tambor de plástico. Essa receita é de biofertilizante aeróbico, isto é, com a presença de ar. Após cinco dias do preparo, mexendo as três vezes por dia, ele estará pronto. Pode-se usar duas vezes a mesma matéria orgânica, depois ela pode ser utilizada diretamente no solo como adubo e proteção.
Na primeira imagem Sr. Jacir preparando o Biofertilizante, a carriola está com a mamona já triturada. Na segunda imagem a bananeira picada, mamona e cinza misturadas no tambor de plástico.
Forma de uso:
Em jiló, berinjela coloca-se um copo puro de 250 ml no pé da planta, após 60 dias de plantados, repetindo a cada 15 dias. Para alface aplica-se 30 ml por pé 2 vezes (5 dias depois do replantio e 15 dias após). Nas folhosas semeadas (rúcula, almeirão, etc.) coloca-se em regador metade de água e a outra metade de biofertilizante e aplica no solo. Esse biofertilizante não deve ser usado nas folhas, pois as queima. Ele é rico em Nitrogênio, então deve ser colocado no solo.
CURIOSIDADES SOBRE O BIOFERTILIZANTE
Nutrientes presentes nos materiais utilizados:
• Boro - semente e raiz da mamona
• Cinza - rica em cálcio
• Urina de vaca - uréia
• Tronco da bananeira - a liga (nódea) é rica em potássio, por isso não pode triturá-la, somente picá-la.
• Ele reduz o ciclo da alface em 8 dias, antecipando a colheita.
• A cobertura morta (palhada, folhas secas, tronco de bananeira, galhos secos de leucena, gliricidea) triturada é indispensável para a proteção dos canteiros e solo da horta.
Inelde, Jacir, Rafael e Rodrigo (agricultores agroecológicos), Rolim de Moura/Rondônia.
Texto: Gisele Francioli Simioni (Técnica Agrícola) e Roseli Maria Klauck Magedanz (Agrônoma)
Foto: Arquivo Projeto Terra Sem Males