quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Aumentou o uso de agrotóxicos em Rondônia

Rondônia apresenta aumento de recolhimento de embalagens de agrotóxicos
O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias de Agrotóxicos (InpEV) informou que, entre janeiro e julho deste ano, foram recolhidos 136.104 quilos de embalagens vazias de agrotóxicos em Rondônia. No mesmo período de 2012, foram devolvidos 110.340 quilos de embalagens. A expectativa é que a retirada de embalagens vazias continue aumentando, acompanhando a evolução da agricultura e contribuindo com a limpeza do meio ambiente.
 
Atualmente, Rondônia possui 13 postos de recolhimento de embalagens e a Central em Cacoal, número insuficiente para atender a demanda de devolução destes vasilhames. Então para facilitar a entrega, órgãos estaduais e entidades têm realizado coletas volantes com frequência no Estado. As coletas itinerantes atendem um número elevado de produtores rurais de localidades distantes dos postos, evitam o descarte incorreto e diminuem o risco de contaminação das pessoas e do meio ambiente.

Embora o Estado tenha apresentado aumento na devolução de embalagens vazias de agrotóxicos, ainda há um grande desafio a ser vencido: a entrega de embalagens com a tríplice lavagem, prática que proporciona economia do produto e possibilita a reciclagem do vasilhame.

Na última reunião do Grupo de Trabalho que discute sobre agrotóxico, foi abordado sobre a necessidade de ações para a conscientização do produtor rural quanto ao uso correto de defensivos agrícolas e importância da devolução das embalagens devidamente lavadas. A gerente de Defesa Vegetal da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron), Rachel Barbosa, ressalta que a Agência vem desenvolvendo trabalhos de orientação e de educação sanitária, atingindo produtores de todo o Estado.

Nesta mesma reunião, os parceiros definiram ações para diminuir o número de recolhimento de embalagens contaminadas; regras para as coletas volantes, como o estabelecimento de datas em acordo dos órgãos e associações de revendas, com presenças de fiscal da Idaron e de funcionários da Associação para a emissão de recibo e inspeção das embalagens; encaminhamento mensal à Agência de listagem de agricultores que devolvem as embalagens laváveis não lavadas; e, execução de atividades de educação sanitária, com entrega de folhetos e realização de reuniões, dias de campo e treinamentos de funcionários de fazendas.

“O produtor rural de Rondônia já está consciente do seu dever de devolver a embalagem, mas também é preciso realizar a tríplice lavagem antes de entregar”, diz o presidente da Idaron, Marcelo Henrique Borges. Ele diz também que as coletas volantes são bons exemplos de cooperação entre entidades. “Estas ações sempre são realizadas em parceria de órgãos do Estado, dos municípios e das associações de revendas de agrotóxico e de produtores rurais. É assim que nosso governador quer que a gente trabalhe”.

Texto: Amabile Casarin
Foto: Arquivo Idaron
Fonte: Assessoria Idaron

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O PROJETO TERRA SEM MALES

O Projeto Terra Sem Males foi concluído junto com as famílias e não tinha como ser diferente pois o mesmo só veio contribuir para que a CPT pudesse realizar  mais uma etapa de sua missão e de seus sonhos de  acompanhar e apoiar um grupo de famílias  de vários municípios  em Rondônia. Famílias que também alimentavam a vontade de desenvolver experiências em agroecologia.  Acreditamos que os objetivos e expectativas do projeto foram alcançadas, ajudar as famílias e já preparando-as para  seguirem caminhado com autonomia sua experiência produtiva.

Um projeto como este tem que ter como intenção provocar mudanças de mentalidade, mudança cultural. Somos conscientes de que o modelo de produção do agronegócio investe pesado em propaganda do seu jeito de pensar o campo brasileiro como; monocultivo, uso de agrotóxicos, e toda forma de desrespeito a natureza.

Despolpadeira construída por famílias do PTSM
no Vale do Paraíso RO
É visível a mudança no comportamento das famílias que atuaram no projeto. Houve neste período um processo coletivo de reeducação em dimensões fundamentais para uma vida mais saudável, especialmente no que diz respeito a forma de plantar e de lidar com a terra, na alimentação, na diversificação da plantação e o resgate da a participação efetiva da família  nos projetos de produção da propriedade.
Em nome de tudo que aprendemos juntos, essa nova consciência que também temos adquirido durante esse tempo do Projeto Terra sem Males, esse resgate cultural nos convenceu de que precisamos produzir nossa própria alimentação e com essa prática superar a ilusão de que a solução para o campo é o monocultivo, especialmente do gado em nossa região e também contribui com a independência financeira das famílias porque diminui essa terrível dependência do mercado.

Precisamos continuar preparando tudo isso para outras famílias, continuar com visitas, encontros para trocas de experiência, para que não se perca esta caminhada que foi tão importante na vida de tantas pessoas.  A Comissão Pastoral da Terra se compromete em continuar acompanhando e tentando viabilizar novos projetos para que para novas famílias mesmo porque entendemos o quanto é inviável o projeto do agronegócio para os pequenos agricultores e para a sociedade em geral, especialmente na Amazônia.


José Pinto de Lima

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Comitê Estadual da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos realiza Seminário.


Seminário debateu perigo dos agrotóxicos na alimentação humana. foto diário amazonia

Com o tema: Desafios e alternativas na luta contra os agrotóxicos e com Assessoria do Prof. Dr. Wanderlei Pignati da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em parceria de várias entidades e organizações, o comitê Estadual da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos. Realiza seminário. Realização: Via Campesina (MST, MPA, MAB, CPT, CIMI) Projeto Pe. Ezequiel/Diocese de Ji-Paraná; Rede de Agroecologia “Terra Sem Males”; UNIR; IFRO; RECID; CEREST; CEPLAC

Seminário estadual debate os perigos do uso de agrotóxico
O Comitê Estadual da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida realizou nos dias 17 e 18, no Centro Diocesano de Formação-CDF de Ji-Paraná, um seminário para discutir a problemática do uso de agrotóxicos, especialmente seus impactos na saúde da população. Esteve presente o professor Wanderlei Pignati, médico e pesquisador pela UFMT. Ele foi o coordenador da pesquisa realizada com apoio da Fiocruz em Lucas do Rio Verde, cujo resultado ficou conhecido nacionalmente pela constatação de contaminação até do leite materno.
Na noite do dia 18, houve o lançamento do documentário “Nuvens de Veneno”, seguido de debate com o pesquisador Pignati no auditório do prédio A do Ceulji-ULBRA. E no dia 19, professores e alunos do Ifro-Instituto Federal de Rondônia, também receberam o professor para palestra e discussão sobre o tema.(continua)


Impactos do uso de agrotóxicos
O Brasil é o campeão mundial no consumo de agrotóxicos. Mais de um bilhão de litros são despejados todos os anos em nossas lavouras. Nos últimos 40 anos houve um aumento de 700% no uso destes produtos químicos, enquanto que a área agrícola aumentou apenas 78% no mesmo período.
O principal problema dos agrotóxicos é a intoxicação, tanto do homem quanto dos animais e do meio ambiente.

Impacto na saúde humana
A Abrasco, Associação Brasileira de Saúde Coletiva, publicou um dossiê que reúne resultados de diversas pesquisas feitas no Brasil avaliando os efeitos dos agrotóxicos sobre o meio ambiente e a saúde humana. O dossiê aponta que 14 agrotóxicos vendidos no Brasil já estão proibidos em outros países porque são suspeitos de causar danos neurológicos, mutação de genes, doenças crônicas, dermatite, desregulamentação endócrina, neurotoxidade retardada, efeitos sobre o sistema imunológico, doença do fígado e câncer.

Estudos estimam que aproximadamente 25 milhões de trabalhadores agrícolas de países pobres sofram com algum tipo de intoxicação causada por exposição a agrotóxicos. Entre 2000 e 2006, os agricultores brasileiros tiveram uma maior incidência proporcional de câncer do que a população urbana, foi o que mostrou a pesquisa realizada por Raquel Maria Rigotto, integrante do Núcleo Tramas, da Universidade Federal do Ceará.
Para as grávidas, o risco é maior. Pesquisadores apontam para as fortes evidências que ligam o contato com pesticidas a problemas durante a gestação, como problemas de desenvolvimento neurológico, defeitos de nascença, diminuição do tempo de gestação, pouco peso do bebê e a morte de fetos.
Cremilda Augusta, agricultora familiar camponesa do município de Espigão d’Oeste, estava grávida de 3 meses quando sofreu um aborto depois de passar por uma pastagem onde havia sido aplicado um pesticida. Desde então, adotou o sistema de produção agroecológico.

Impacto ambiental
Além da contaminação do solo, de lençóis freáticos, rios e lagos, o uso de agrotóxicos contribui para o empobrecimento do solo e para o surgimento de pragas progressivamente mais fortes. Outros problemas são a diminuição do número de abelhas polinizadoras e a destruição do habitat de pássaros em ambientes onde pesticidas são utilizados.

Em pratos limpos
Há 25 anos o Projeto Padre Ezequiel, um dos componentes do Comitê contra os Agrotóxicos e pela Vida, vem orientando agricultores familiares camponeses do estado de Rondônia para o modo de produção agrícola agroecológica que se refere não apenas à não utilização dos agrotóxicos, mas, à correta utilização dos recursos dos ecossistemas, de forma que combinem diversificação e rotatividade de produtos adequados e naturais ao bioma amazônico.
“Este sistema, possibilita a produção em harmonia com o meio ambiente, garante a segurança alimentar, o aumento da renda e o estabelecimento das famílias na terra”, afirma o coordenador do Projeto Padre Ezequiel, José Aparecido de Oliveira.

A solidariedade contra o privilégio
O apelo por alimento “saudável" já fisga sete entre dez brasileiros, segundo pesquisa de hábitos de compra feito pela transnacional Nielsen. De todos os gastos feitos por famílias das classes A e B, 30% são com orgânicos. 
“Os varejistas estão se aproveitando deste nicho de mercado e vendendo o produto orgânico como produto da moda. Como tem quem pague, continuam praticando preço alto”, desabafa o agricultor familiar Ananias Andrade, do assentado de reforma agrária do município de Mirante da Serra
Desafiando esta lógica de mercado agricultores familiares camponeses estão comercializando seus produtos em feiras que acontecem semanalmente em 16 municípios do estado de Rondônia. Vendem uma grande variedade de produtos por preços justos e acessíveis a todos. “Assim como nos preocupamos em produzir com qualidade para nossas famílias também nos preocupamos com a comunidade.”, explica o agricultor Carlos Alves, de Mirante da Serra.
“Através da prática agroecológica buscamos estimular uma nova forma de comercializar a produção dos agricultores camponeses. Sem explorar o outro, sem querer levar vantagem. Isto fortalece os grupos através da cooperação e da busca pelo bem comum”, ressalta o coordenador do Setor Agrícola do Projeto Padre Ezequiel, Francisco de Assis

domingo, 29 de setembro de 2013

Agroecologia em Alta Floresta do Oeste, Rondônia.

Reproduzimos matéria de Rondonianews sobre Dia de Campo organizado pela Seagri e Emater em Alta Floresta do Oeste, Rondõnia, com palestras de Inelde Vendruscolo, que era das famílias atendidas pelo Projeto Terra Sem Males, e o seu filho Ronaldo Vendruscolo, agrônomo que atualmente coordena o projeto de agroecologia da Igreja Luterana em Cacoal. 

PRODUÇÃO ORGÂNICA É TEMA DE DIA DE CAMPO EM ALTA FLORESTA
Esta foi a primeira etapa do Dia de Campo. No dia 24 de outubro acontece a segunda etapa com apresentação conclusão dos trabalhos práticos.

Um número considerável de produtores rurais e feirantes do município de Alta Floresta participou do Dia de Campo sobre horta caseira orgânica, realizado nesta quinta-feira (26), na Linha 42,5, Km-1, na propriedade do casal de agricultores Lúcio e Sônia Michels. O evento foi idealizado pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Agricultura (SEAGRI), em parceria com a Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (EMATER), Secretaria Municipal de Agricultura (SEMAGRI), Idaron e Câmara Municipal de Vereadores de Alta Floresta.


O gerente do escritório da Emater de Alta Floresta, Paulo Herinque, o secretário adjunto de Agricultura do município, Alisson de Paula, o vereador Edmar Boldt (PSB), o fiscal estadual agropecuário da Idaron, engenheiro agrônomo Ernesto Antônio Moraes, e demais técnicos da Emater, Semagri e Idaron participaram da abertura do evento que contou com palestras ministradas pela agricultora Inelde Vendrusculo e o graduando em agronomia, Rodrigo Vendrusculo.
Esta foi a primeira etapa do Dia de Campo. No dia 24 de outubro acontece a segunda etapa com apresentação conclusão dos trabalhos práticos.
Neste primeiro evento, Ernesto Antônio falou da agência Idaron que tem o trabalho de fiscalizar, mas o intuito maior é a educação sanitária.
Alisson de Paula frisou a importância do tema que trabalha o respeito do produtores com o consumidor. “Estamos visando um trabalho sem agredir o consumidor”, disse o secretário.




Para Paulo Henrique, o mais importante do evento é a educação alimentar. Conhecer técnicas, discutir o tema, a importância da produção orgânica e os malefícios do uso de agrotóxicos. “Temos uma recomendação do Ministério Público quanto ao uso excessivo de agrotóxicos no município” esclareceu.

Durante o Dia de Campo foram abordados temas como a agroecologia, o preparo do solo, biofertilizantes, os malefícios dos agrotóxicos e o uso abusivo.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Conferência sobre Agrobiodiversidade



Car@s Amig@s,


Apresentar alternativas ao uso de Transgênicos e Agrotóxicos na produção agrícola brasileira, esse foi o objetivo da Conferência Temática sobre Agrobiodiversidade, realizada em Brasília nos dias 20 e 21 de junho. Ao final do evento foram sistematizadas dez propostas que serão encaminhadas para as etapas estaduais preparatórias para a 2ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural e Sustentável Solidário, prevista para outubro. Organizado pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), ambos do Ministério do Desenvolvimento Agrário, integrados paritariamente pela sociedade civil e o governo, participam lideranças de movimentos sociais, pesquisadores e gestores públicos.


De acordo com Roberto Nascimento, diretor do NEAD, a agroecologia é fundamental para pensar o desenvolvimento rural brasileiro. Ele explicou que em 2008 ocorreu a primeira Conferência Nacional e o seu resultado foi a aprovação da Política de Desenvolvimento Rural, que elencou prioridades na perspectiva da agricultura familiar: reforma agrária, mulheres, juventude, povos e comunidades tradicionais, etc.


“A Política ainda está no Congresso, no foi retirada e na Câmara ainda está tramitando. Mas teve influência em algumas políticas. Haverá essa 2ª Conferência cinco anos depois para criar um Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Solidário com objetivo de colocar em prática nos próximos 20 anos todas as temáticas debatidas na última década junto aos movimentos sociais e o governo. É muito importante para o povo brasileiro”, observou.


Segundo o pesquisador, apesar de não convivermos mais com a escravidão ainda enfrentamos o latifúndio e a produção direcionada para o exterior, hoje chamada de commodities, sobretudo da soja. Nascimento, no entanto, defende que temos políticas com uma direção econômica diferenciada na ainda atual modernização conservadora.


“Ter no ministério políticas para a agricultura familiar e a reforma agrária já são avanços. E nos leva a pensar na participação popular, é o governo e a sociedade civil integrados pensando num plano nacional que pense o futuro. É também subverter com a tradição da nossa história, num momento oportuno com participação popular nas ruas. Tivemos uma série de conferências e conselhos no Brasil, participação popular é isso”, afirmou.


A Conferência foi concebida no âmbito do GEA - Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade, que foi construído nos últimos seis anos para acompanhar a forma como o governo vem internalizando em suas políticas o tema dos transgênicos. Gabriel Fernandes, da AS-PTA e integrante da Comissão Nacional da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, criticou o papel da Comissão responsável pela biossegurança, pois, em sua opinião, o órgão tem atuado mais na promoção da biotecnologia.


“Foi criado esse grupo da sociedade civil com pesquisadores para trabalhar questões da agrobiodiversidade de forma mais ampla. Precisamos pensar um processo maior de transição para agroecologia, aproveitando o que está sendo construído no Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica”, concluiu.


Hoje o Brasil é o país com a segunda maior área de transgênicos , menor apenas que os Estados Unidos, basicamente com a soja e o milho. Esse cenário permite reunir um conjunto grandes evidências para um balanço dessa última década, complementou Fernandes, já que o Brasil começou em 2003 a reformar seus marcos regulatórios visando à liberação do plantio dessas culturas. É preciso apurar que resultados produziram todas as as promessas e comparar a propaganda com o que está de fato acontecendo no campo, concluiu.


Ciência versus poder econômico


A abertura da Conferência Temática contou ainda com palestra magna do professor Paulo Kegeyama, ex- diretor de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. Ele iniciou sua fala criticando os critérios de aprovação de transgênicos pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), da qual foi membro por 4 anos. Para ele, os resultados de suas votações, sempre favoráveis às liberações desses produtos, indicam um jogo de cartas marcadas. O especialista apresentou seu projeto de pós graduação na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, onde é professor titular, com centenas de assentamentos da agricultura familiar que estão em processo de transição agroecológica via sistemas agroflorestais.


“O que domina a produção de alimentos é o agronegócio, as grandes empresas, gerando um meio rural sem gente. Segundo o Censo do IBGE, 85% da produção são de agricultores familiares em apenas 30% da área nacional. Estudamos há 30 anos a biodiversidade tropical, queremos explicar a crise sócio ambiental do agronegócio e por que tanta utilização de agrotóxicos associada aos transgênicos. Mostrar esse desequilíbrio da tecnologia moderna que exige a utilização massiva desses instrumentos. É importante mostrar que as mesmas empresas dos agrotóxicos abocanharam o sistema de sementes”, destacou.


Ele levantou dados que apontam para uma produtividade mais qualificada, e com custo inferior ao modelo agroindustrial. Nesse sentido, Kegeyama critica o fato de sermos desde 2008, segundo a Anvisa, o país campeão de uso de agrotóxicos. E defende que o sistema agroecológico produz mais emprego e alimentos saudáveis, além da promoção sócio ambiental, e é importante ampliar a escala de adoção dessas tecnologias para influenciar as políticas públicas.


“Estamos nos envenenando. E os transgênicos causam impactos aos agricultores, é uma política para desenvolver as grandes indústrias e empresas. Grande impacto sobre a saúde humana. Na CTNBio vi processos apresentados pelas empresas sem nenhum rigor científico e que mesmo assim fora aprovados“, alertou.


Em 2012 uma pesquisa publicada na revista Food and Chemical Toxicology, referência na área de toxicologia, mostrou tumores provocados pelo glifosato, agrotóxicos mais utilizado no Brasil nos últimos 10 anos. A pesquisa durou 2 anos, ao contrário da média de 3 meses dos estudos apresentados pelas empresas. Essa foi mais uma lembrança do professor, que trabalha no sentido de empoderar as comunidades de tecnologias em favor da agricultura familiar.


“Em São Paulo 6.500 famílias, cerca de 35 mil pessoas, trabalhamos com uma pesquisa participativa. O MST recebeu a terra da reforma agrária, no Portal Paranapenema. Avaliamos o uso de macaúba em sistemas agroflorestais, e ela produz dez vezes mais que a soja. São sistemas com várias espécies combinadas, naturalmente ou não, na perspectiva da transição agroecológica. O conhecimento da biodiversidade é a base para se promover essa tecnologia”, disse.


A transgenia é, de fato, uma tecnologia excludente e quem conserva e usa as variedades crioulas convive com o desafio da contaminação que pode vir do vizinho que planta transgênicos. Por outro lado, a sociedade vem dando cada vez mais importância à qualidade dos alimentos, complementa, e o setor de saúde nas universidades e na própria Anvisa começa a ligar os fatos às doenças graves em regiões que usam muito agrotóxicos. Os sistemas agroflorestais têm promovido a segurança e soberania alimentar, mas isso é abafado pela grande propaganda midiática. Estudos mostram que a produção de leite com sombreamento de árvores nos pastos, por exemplo, garante no mínimo 10% a mais de produção. Teses em relação ao custo e produtividade da agroecologia comparada ao agronegócio, segundo o professor, mostram que as outras espécies da diversidade não são computadas: o custo de produção em sistemas agroecológicos, garantindo maior renda ao produtor.


Fonte: www.agroecologia.org.br

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Governo aprova Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO)

Horta tipo mandala do PAIs
Em 7 de junho, foi aprovado o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), que é o principal instrumento da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), instituída pelo decreto presidencial nº 7.794/2012, em agosto de 2012.

O objetivo da PNAPO é integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis. Suas diretrizes envolvem a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional, a promoção do uso sustentável dos recursos naturais, a conservação dos ecossistemas naturais, a promoção de sistemas justos e sustentáveis de produção e a valorização da agrobiodiversidade, dentre outros.

O PLANAPO concretiza o anuncio feito pela presidenta Dilma no último dia da Marcha das Margaridas, em agosto de 2011, que dizia: “Criação de um grupo especial de trabalho, com a participação de segmentos sociais e das organizações de mulheres para elaborar o Programa nacional de Agroecologia”. Ele foi construído conjuntamente pela âmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (CIAPO) e por representantes da sociedade civil que formam a ão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO, da qual a CONTAG) e é orientado por 4 eixos: Produção; e Conservação de Recursos Naturais; Conhecimento; e Comercialização e Consumo.

As ações voltadas para mulheres e jovens são transversais em todos os eixos do plano, tendo como base: a ampliação da participação da juventude rural na produção orgânica e de base agroecológica; e a contribuição da redução das desigualdades de gênero, por meio de ações e programas que promovam a autonomia econômica das mulheres.

Segundo Alessandra Lunas, secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da CONTAG, o PLANAPO firma o compromisso do governo e garante mais apoio à produção da agricultura familiar com sustentabilidade. “Ele é importante porque fortalece o debate sobre a segurança e soberania alimentar e nutricional com alimentos saudáveis, que é um debate político que sempre esteve na nossa agenda.”

Uma das metas do PLANAPO é disponibilizar R$ 655 milhões em segurança hídrica para produção nas unidades de produção familiar, à agroindustrialização e acesso a mercados e para o fortalecimento das dinâmicas sociais e de redes. Espera-se também promover, ampliar e desenvolver iniciativas que contribuam para a redução do uso de agrotóxicos e aplicar R$ 3,4 milhões em ações de fortalecimento à organização da produção orgânica e de base agroecológica no Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais. Outra meta é fortalecer a autonomia e emancipação da juventude rural na produção orgânica e de base agroecológica, promovendo sua permanência e a sucessão no campo.

Estiveram presentes no ato de aprovação os ministros Gilberto Carvalho (da Secretaria Geral da Presidência da República), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), os Secretários Executivos do Ministério da Agricultura, José Geraldo Fontelles, e do Ministério da Pesca e Aquicultura, Átila Maia da Rocha, além de representantes dos demais ministérios que compõem a Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica – Educação, Saúde, Ciência e Tecnologia, Fazenda e Desenvolvimento Social.

A expectativa é que o lançamento do PLANAPO seja até o início de julho, com a presença da presidenta Dilma Rousseff.



Fonte: Assessoria CONTAG

terça-feira, 28 de maio de 2013

Palestrante da 2ª Rondônia Rural Show, Padre Ton faz a defesa da agroecologia

Criticando o espaço da agroecologia misturada no evento do agronegócio de Rondônia, muitos agricultores orgãnicos rejeitaram a participação no espaço. Apesar disso reproduzimos matéria assinada pela assessoria do deputado Padre Ton:

"Palestrante na 2ª Rondônia Rural Show, evento realizado no Parque de Exposições em Ji-Paraná, o deputado federal Padre Ton (PT-RO) defendeu a Agroecologia durante explanação realizada no sábado (25) com o tema “Políticas Públicas para a Agroecologia e Produção Orgânica”. Estiveram presentes o secretário nacional da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Valter Bianchin; o delegado do ministério em Rondônia Genair Capelini; o secretário de Estado da Agricultura Evandro Padovani e o deputado federal Anselmo de Jesus (PT) entre outras autoridades. 

Os principais objetivos do seminário foram discutir o Plano Nacional de Agroecologia e produção orgânica que está em processo de criação, para apresentar sugestões, levantar os desafios e por fim constituir uma Comissão interinstitucional para reformulação e adequação da legislação estadual tendo como referência o Plano Nacional.

O seminário também destacou a importância da Rondônia Rural Show como vitrine para o agronegócio do Estado, trazendo a discussão da Agroecologia e da agricultura em suas diversas formas. As muitas experiências de Agroecologia no estado e as muitas dificuldades para os agricultores agroecológicos acessarem os programas de crédito foram os principais temas levantados. 

Padre Ton falou sobre seminário que ocorreu semana passada em Brasília, com representação de diversos estados brasileiros. Para o deputado, a agricultura familiar está em desvantagem em relação à agricultura empresarial no tocante a representatividade política: “São poucos os parlamentares que endossam essa causa, que defendem a agricultura familiar, em contrapartida são mais de 200 os parlamentares que defendem o agronegócio empresarial”. Para ele, os agricultores familiares também estão em desvantagem nas políticas de crédito, de assistência técnica e comercialização.

“A agricultura convencional degrada a natureza, contamina o solo, polui os rios, enquanto a agroecologia vai possibilitar manter a biodiversidade e, mais importante, a nossa alimentação”, destacou. Padre Ton lembrou o elevado índice de ocorrência de câncer nas pessoas em Rondônia que vão a Barretos (SP) fazer tratamento, com fortes indícios dessa incidência com a contaminação do solo, das águas e dos alimentos por agrotóxicos. Disse que em algumas cidades os mercados já separam os alimentos agroecológicos ou orgânicos dos demais, gerando encarecimento dos alimentos sadios.

O deputado disse que a Agroecologia encontra barreiras enormes, como bancos e assistência técnica, mas mesmo assim continua avançando com sua produção. Por fim, disse que estão sendo criados espaços, que é preciso aproveitar, como os programas do MDA, a parceria com a Fundação Banco do Brasil e os programas Produção de Aquisição de Alimentos e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)."
fonte assessoria padre ton.

terça-feira, 26 de março de 2013

Manejo Sustentável de Pastagens


Republicamos aqui esta interessante matéria sobre manejo sustentável de pastagens, que nos repassa o companheiro José Silva, coordenador do Projeto Natureza Viva do vale do Guaporé.

Manejo Sustentável de Pastagens – o que evitar e como fazer?

Autor: Jurandir Melado - Eng. Agrônomo, Professor da UFMT (aposentado), consultor e autor de livros sobre Manejo Sustentável de Pastagens.

Fonte: ruralban















A pecuária brasileira alcançou nas últimas décadas junto com a relevância econômica, a incômoda fama de grande vilã do meio ambiente. Motivos para isso não faltaram! A pecuária foi preferentemente a atividade inicial em quase todas as frentes de abertura das fronteiras agrícolas. Com isso, granjeou a fama de destruidora das florestas e recentemente, de grande responsável pelo aquecimento global, por contribuir com o aumento da camada de gases de efeito estufa, originados principalmente na fase de derrubada e queima da floresta para a formação das pastagens. E o problema continua: com um manejo inadequado, as pastagens se degradam, resultando na redução da capacidade de suporte, gerando a demanda por desmatamentos de novas áreas para a manutenção ou ampliação da atividade. Áreas degradadas, com escassa cobertura vegetal se transformam em verdadeiros fornos e espelhos, absorvendo a radiação e devolvendo-a, ao espaço na forma de calor.

Estabeleceu-se, principalmente, na Região Amazônica – um círculo vicioso cruel: desmatamento – formação de pastagens – pastagens mal manejadas – degradação e perda da capacidade – desmatamento de novas áreas. Com isso, o Brasil conta hoje com um enorme estoque de áreas de pastagens degradadas e/ou subutilizadas que, em cálculos conservadores, somariam pelo menos, cerca de 100 milhões de hectares. A simples recuperação e a utilização adequada dessas pastagens degradadas, bastariam para dobrar a produção pecuária brasileira, sem a derrubada de mais nenhuma árvore.

Com os naturais hábitos do pastejo seletivo e do caminhar constante, em regime de pastoreio contínuo em pastagens extensas, os bovinos se transformam em verdadeiros predadores da pastagem e na sequência, do solo e do meio ambiente. Mas a situação pode ser diferente. Existe um sistema de manejo que promove a recuperação das pastagens, possibilita sua sustentabilidade, tendo também o efeito de multiplicar por três a produtividade (capacidade de suporte). Necessitando de áreas menores para a mesma produção pecuária, são disponibilizadas áreas para a recuperação ambiental de APPs e Reservas Legais e/ou utilização para outras atividades agrícolas. Está aí o caminho para a redenção da pecuária, livrando-a da pecha de vilã do meio ambiente.

O que evitar ou substituir para evitar que as pastagens se degradem e tenham redução da produtividade?


O pastoreio contínuo (na realidade a ausência de manejo!) e os vários tipos de pastoreio rotativo simples, realizado sem o necessário embasamento técnico-científico, são os manejos a serem evitados. Esses sistemas, em algumas situações, podem até satisfazer as necessidades do gado e do pasto, mas nunca ao mesmo tempo.Devemos evitar sistemas de manejo inadequados!

No pastoreio contínuo, o gado promove desfolhas sucessivas da forrageira, não permitindo que ela alcance o clímax do crescimento vegetativo, reduzindo a produtividade. Com baixa lotação (poucos animais em áreas extensas) para o gado, não é um mau negócio, pois ele irá, sempre, colher as pontas do capim. Mas, para saúde e a produtividade do capim, será sempre péssimo, pois não permitirá o acúmulo de reservas que garante uma rebrota vigorosa após o pastejo e o capim estará sempre sendo colhido antes de completar seu desenvolvimento.

No sistema extensivo, o gado chega a caminhar 10 km por dia, compactando o solo, destruindo a pastagem com o pisoteio e gastando energia que poderia ser canalizada para a produção. Esse constante caminhar do gado cria trilhas que facilitam a movimentação das águas das chuvas, acelerando a erosão. Quanto ao pastoreio contínuo, soma-se o superpastejo (excesso de animais), como é comum acontecer, e a pastagem entra em degradação mais rapidamente, começando com a diminuição do porte das forrageiras (partes aéreas e raízes), a capacidade de suporte decresce progressivamente, aparecem as calvas (áreas descobertas) e a desertificação é o estágio final. Pode parecer um exagero ou dramatização, mais esse é o processo de formação da grande maioria dos desertos existentes no mundo!

Quanto ao pastoreio rotativo simples, sua maior limitação é o número reduzido de piquetes ou parcelas, que não permite que, de modo simultâneo, o pasto tenha um período de repouso, longo o suficiente, para que possa atingir seu desenvolvimento ideal e um período de ocupação curto, de forma a impedir que o gado coma a brotação nova e pouco produtiva da forrageira. Os conceitos de repouso e ocupação constituem a base das duas principais “leis universais do pastoreio racional”, que serão explicitadas adiante. Considero o desconhecimento dessas leis pelos produtores e técnicos que se dedicam à pecuária como o fator que mais concorre para a degradação e a baixa produtividade das pastagens.

O que fazer para recuperar pastagens degradadas, tornando-as produtivas e sustentáveis?



Se quisermos mudar algo, temos que fazer algo novo! Ou seja: mudar o sistema de manejo! Não tenho dúvida alguma que o melhor e mais perfeito sistema de manejo de herbívoros a campo, nos dias atuais, é o Pastoreio Racional Voisin (PRV ou Sistema Voisin). Estou convicto, também, que qualquer sistema que surgir no futuro que seja melhor que o PRV, será um aperfeiçoamento ou detalhamento. Este é o caso do sistema a que me dedico há mais de 20 anos que associa o Pastoreio Voisin com o Sistema Silvipastoril, conhecido por Manejo de Pastagem Ecológica – Sistema Voisin Silvipastoril.

O que diferencia o Pastoreio Voisin do pastoreio rotativo simples: o PRV é conduzido com estrita observância às “Quatro Leis Universais do Pastoreio Racional” de André Voisin e o pastoreio rotativo simples, quase nunca!

O que determinam, então, essas “Leis” que fazem a diferença?

A genialidade destas leis é que elas explicitam de forma clara, regras naturais e óbvias, mas nem sempre compreendidas a aplicadas, que atendem simultaneamente as necessidades do gado e das pastagens. Das quatro leis, as duas primeiras se preocupam em proteger o pasto e as outras são voltadas para os animais. São elas:

1. Lei do Repouso, ou primeira lei do pasto: Determina que, após cada utilização, a pastagem tenha um repouso suficientemente longo que possibilite à pastagem duas condições básicas: 1)- o acúmulo de reservas de nutrientes, nas raízes e partes baixas do caule, que possibilita um rápido início da rebrota e 2)- passar pelo período de maior crescimento diário de massa verde (labareda de crescimento);

2. Lei da Ocupação ou segunda lei do pasto: Impõe que o período de ocupação da pastagem seja suficientemente curto de forma a não permitir ao gado colher brotação nova do pasto surgida após a sua entrada na parcela.

3. Lei da Ajuda ou primeira lei dos animais: Recomenda que os animais com exigências nutricionais mais elevadas, recebam o alimento que necessita em quantidade e qualidade.

4. Lei dos Rendimentos Regulares ou segunda lei dos animais: Para que tenham rendimento regulares, seja em produção de leite ou ganho de peso, os animais não podem permanecer mais que três dias na mesma parcela de pasto. Os rendimentos serão máximos e regulares, se a permanência não for superior a um dia.

O cumprimento das duas primeiras leis garante que a pastagem terá o máximo de sua produtividade potencial e se tornará sustentável. As outras proporcionam ao gado a alimentação que necessita para uma produção máxima e regular. Notem que só a última lei especifica valores fixos, já que a duração dos períodos de repouso e de ocupação depende de especificidades referentes à época do ano, posição geográfica, índice pluviométrico, fertilidade do solo, etc., podendo variar caso a caso.

Entre as inúmeras vantagens do PRV está a capacidade de elevar a fertilidade do solo. Isto ocorre pela “parcagem”, ou deposição de dejetos, que é grandemente ampliada pela intensificação. Façamos os cálculos: com a lotação de ½ UA/ha em pastoreio contínuo, teríamos por ha/dia, 20 kg de dejetos ou 7300 Kg/ha em um ano. Com o PRV, com 100 UA/ha, teríamos 4000 kg em um dia de permanência do gado no piquete. Como o gado passa em média 8 dias/ano em cada piquete, teremos em 1 ano nada menos que 32.000 kg de dejetos a adubar as pastagens, em 8 “aplicações” distribuídas de forma homogênea. Quando se sabe que parte significativa dos nutrientes fornecidos no sal mineral é eliminada pelo gado por meio dos dejetos, percebemos que, com o PRV, estamos, permanentemente, adubando nossos pastos.

Manejo de Pastagem Ecológica – Sistema Voisin Silvipastoril, uma evolução do PRV


No passado recente, a maioria dos técnicos ainda desaconselhavam a arborização das pastagens, alegando que as árvores competiriam com as forrageiras na utilização dos nutrientes disponíveis. A experiência, porém, mostrou que ao invés de disputar nutrientes com as forrageiras, as árvores são verdadeiras “bombas de adubação” retirando nutrientes de camadas profundas do solo e depositando-os na superfície através das folhas e galhos que caem. Existem inúmeras outras vantagens: sombreamento que melhora o conforto térmico e também resulta em maior produção animal, efeito quebra-vento que mantém a umidade e melhora do micro-clima, melhor equilíbrio ambiental, entre outras, além é claro, das possibilidades econômicas dos produtos, advindas da comercialização das próprias árvores.

O Sistema Silvipastoril se tornou assim uma unanimidade. Porém, com todas as suas vantagens, as árvores não bastam para garantir a sustentabilidade de uma pastagem, que, mesmo assim, entrará em degradação se o manejo for inadequado. Porém, quando o Sistema Silvipastoril é associado ao sistema de Pastoreio Racional Voisin, chega-se a um consórcio perfeito que agrega as necessidades básicas do gado, da pastagem e do solo: o Manejo de Pastagem Ecológica. Nesse sistema, a cooperação entre os três elementos é total e cada um tem um efeito positivo sobre os outros dois. A consequência é uma alta produtividade e bem estar animal aliado à evolução e sustentabilidade da pastagem e à preservação do meio ambiente.

A experiência tem mostrado que uma pastagem qualquer, mesmo em severos estágios de degradação, pode ser convertida em uma Pastagem Ecológica no curso de poucos anos, com aplicação dos seguintes procedimentos: implantação de um projeto de Pastoreio Racional Voisin, arborização adequada, diversificação das forrageiras e exclusão de procedimentos inconvenientes, como as queimadas, o uso de adubos altamente solúveis e as roçadas sistemáticas.

Como fazer a implantação do Manejo de Pastagem Ecológica?

Considero o “como fazer” tão importante quanto “o que fazer”, pois muitas idéias brilhantes na teoria, fracassam na hora da prática por falta de habilidades específicas nos responsáveis pela elaboração e implementação dos projetos. Porém, só o detalhamento deste item comportaria um manual com dezenas de páginas, não sendo viável fazê-lo no contexto deste artigo.

Há alguns anos, ao decidir que a divulgação da Pastagem Ecológica seria a minha “missão de vida”, estruturei e passei a oferecer um curso de capacitação para técnicos e produtores que contempla os aspectos teóricos e práticos do Manejo de Pastagem Ecológica. Veja alguns conselhos de ordem genérica:

• Elaboração do projeto: O tempo e dinheiro gasto em um bom projeto serão amplamente compensados em economia na hora da implantação e em funcionalidade no manejo posterior.

• Número de piquetes: Não se iludam: com poucos piquetes será sempre muito difícil, senão impossível, atender ao mesmo tempo a LEI DO REPOUSO e a LEI DA OCUPAÇÃO. Quanto maior o número de piquetes, melhor! Nunca menos que 40.

• Opção pela cerca elétrica: Não existe melhor forma de se fazer a divisão das pastagens que as cercas elétricas. Deve-se ficar atento, porém, na hora da compra dos componentes, pois muitas peças industrializadas disponíveis no mercado podem ser substituídas com vantagens funcionais e econômicas por peças artesanais. São exemplos, as chaves interruptoras, os punhos para porteiras e as cercas móveis.

• Arborização das pastagens: Ao arborizar uma pastagem em uso, é imprescindível fazer a proteção das mudas para evitar que os animais as destruam. O uso de cercas elétricas temporárias é a melhor forma de proteção, tanto de mudas individuais ou pequenos grupos de árvores ou de bosques e faixas arborizadas.

domingo, 3 de março de 2013

A Rede de Agroecologia Terra sem Males

Reuniãso em Ji Paraná da Rede de Agroecologia Terra sem Males. Foto: mauro porto 


Reunião da Rede de Agroecologia Terra Sem Males

 Nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2012 estivemos reunidos no centro de formação em Ji-paraná a Rede de Agroecologia Terra Sem Males.
A primeira coisa muito positiva nesses dois dias de encontro foi o entendimento de que  a construção da rede nada mais é que o arrebanhar, o ajuntar, o reunir experiências, experimentos aprendizados acumulados pelos homens e mulheres que trabalham a terra. E a partir da experiência desenvolveu a crença e a consciência da necessidade de estabelecer uma relação de respeito com a terra e todas as formas de vida. Nosso processo produtivo precisa ser diferente do que prega  e orienta o modelo maldito e ganancioso  dos que trilham os caminhos do agronegócio.
Então vemos ai dois projetos antagônicos, duas visões completamente diferentes. A primeira, que aprendemos pelas estradas da agroecologia é justamente este respeito, este amor pela mãe terra, jamais  envenená-la. Buscar constantemente  alternativas de como naturalmente cuidar  das plantas, dos seres humanos e dos animais, ir buscando no dia a dia entender profundamente esse equilíbrio que é realmente o centro da questão.
O que tem acontecido também de muito positivo nesta articulação da rede é  o fato  das organizações estarem participando. Organizações que tem respeito e importância nas lutas do povo como MST, CPT, MPA, SINDICATOS e associações de agricultores.
Outro debate sobre o qual devemos apropriar é a questão do selo orgânico sempre vista tido como uma algo muito burocrática e muito difícil pra ser alcançada. Ao que nos pareceu pelo relato de pessoas do governo é que agora temos possibilidade de conquistar com mais facilidade e sem burocracia com a chamada adesão participativa. Neste caso os próprios agricultores serão fiscais um dos outros. É fundamental as organizações decidirem se tomará as rédeas nesse momento importante da caminhada.
O companheiro Mauro Porto fez no inicio dos trabalhos uma análise de conjuntura questionando que a base do governo de Lula e Dilma é praticamente do agronegócio. Também deixou claro, ogronegócio é muito mais do que um modelo para a agricultura, faz parte de um projeto de sociedade a serviço do capital. Outra novidade que foi oficializada o coordenação da Rede Terra Sem Males que foi composta por um representante de cada organização presente.

                                           .......E a luta continua.
José Pinto de Lima

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Famílias do projeto continuaram realizando encontros

Grupo de agricultores do Terra Sem Males. 
Após assembleia de famílias de agricultores realizada em Ouro Preto do Oeste ontem, dia 15 de fevereiro de 2012, o Projeto Terra Sem Males praticamente encerra o seu trabalho. Na reunião, além de agricultores e o atual coordenador do Projeto, José Pinto de Lima, representantes   da CPT Ro e do MST.  Atrás quedam anos de assistência técnica pioneira em linha agroecológica, de intercambio de experiências entre as famílias, desenvolvidas no dia a dia, partindo das características próprias do bioma amazônico.

Na assembleia do Projeto, a Irmã Maria Ozânia, da equipe de coordenação da CPT Rondônia, apresentou a campanha contra o trabalho escravo. A situação grave dos trabalhadores rurais sem terra, que acabam caindo por necessidade nas mãos de pessoas sem escrúpulos, sendo sometidos a moderna escravidão: Promessas de trabalho enganosas, com trabalho forçado, em condições de alimentação, alojamento e tratos degradantes, dívidas forjadas, intimidações, violência e ameaças... 
Todo isso não é somente história do passado de Rondônia, ainda triste realidade de nossos dias, como testemunham pessoas chegadas na CPT Ro e fiscalizações realizadas em nosso estado, que tem elevado a dezesseis o número de fazendas e de firmas de Rondônia que constam na "lista suja" do trabalho escravo. 
Esta realidade do trabalho escravo nos remete a necessidade de terra e de reforma agrária, e esta a de formação agroecológica para os agricultores pode viver e se manter na terra. 

O Projeto Terra Sem Males reuniu uma equipe privilegiada de famílias engajadas em trabalhar a terra e viver   desenvolvendo a linha agroecológica. Apesar de muito dispersos territorialmente, eles valorizam especialmente os encontros realizados nas diversas localidades, com visitas aos sítios de algumas delas. isso possibilita ver na prática os trabalhos e experiências desenvolvidas. 

A continuidade destas visitas ficou estabelecida, e contemplada em um novo projeto de agroecologia desenvolvido pela CPT RO. Ao final do encontro se marcou dois dias para realização deste encontro ainda este ano, em Mirante da Serra, para os dias 24 e 25 de março.

A possibilidade deles realizarem assessorias e acolher visitas, remuneradas, de outros agricultores interessados na agroecologia, também foi contemplada. A luta pela terra acha um dos seus entraves nas dificuldades dos agricultores em produzir de forma correta e sustentável. 

Ainda no encontro foram relatadas novidades no trabalho: despolpadeiras, pequenas agroindústrias, equipamentos para feiras...

Também algumas dificuldades novas: Avanço de agronegócio, com plantio de soja regada com agrotóxico e destruição de meio ambiente nas proximidades, atrasos no pagamento do PAA (programa de aquisição de alimentos), etc. 

Outras derivações relacionadas do Projeto Terra sem Males: as hortas do PAE, a Rede de Agroecologia Terra sem Males (que se reúne a próxima semana em Ji Paraná), as feiras de produtos sem veneno do MPA de diversas localidades, o projeto da Igreja Luterana em Cacoal... Também a CPT RO acompanha alguns grupos interessados em aprender sobre o tema em Porto Velho, Candéias do Jamari, etc.

Ainda  vai ter encerramento do fundo rotativo que tem ajudado as famílias a fazer novos investimentos na linha agroecológica: despolpadeiras, novas agroindústrias, novas matrizes de cabritos, etc.