RELATÓRIO DA OFICINA DE TROCAS DE EXPERIÊNCIAS DE AGROECOLOGIA
VI FORUN
PANAAMAZÔNICO
COBIJA-BO, 29 DE
NOVEMBRO DE 2012.
Objetivo
Realizar uma oficina de agroecologia, organizada pela CPT Rondônia através
do Projeto Terra Sem Males, durante o VI Fórum Panaamazônico.
Objetivos Específicos
Valorizar
e divulgar as experiências e práticas de agroecologia existentes; Fortalecer a
agricultura familiar; Incentivar a produção agrícola sem uso de veneno.
Assuntos
Experiências
de agroecologia que deram certos ou não e testemunho de agricultores familiares
que já vem desenvolvendo essa prática; as bases da agroecologia, como produzir
alimentos sem veneno; compostagem, queima de ossos e sal mineral;
Introdução
A
CPT/Ro se fez presente no VI Fórum Panamazônico, em Cobija na Bolívia, com o
intuito de participar das discussões
sobre a Amazônia. O Fórum contou com a presença de representantes dos
nove países que compõe a Amazônia Legal e de todos aqueles que veem a questão
Amazônica como uma questão de interesse mundial. Ficou a cargo da CPT/RO a
realização de uma Oficina, cujo tema: Experências Agroecológicas, a ser
executada pelos agricultores que participam do Projeto Terra Sem Males. Projeto
este realizado pela CPT, e que serviu como um berço para a Agroecologia, mas
essa criança cresceu, esses agricultores produzem e vivem de forma
agroecológica e querem passar suas experiências nesse processo afim de
disseminar conhecimento, e assim incentivar outras pessoas a conhecerem e
viverem a agroecologia.
Relato
A oficina iniciou-se na manhã do dia
29, atraindo um público de aproximadamente 40 pessoas, sendo todos do Brasil,
com exceção de uma pessoa da Bolívia. Se fez presente, pessoas do Acre,
Amazonas, Goiás, Mato Grosso e Pará, o público maior foi de rondônia. Todos e
todas se apresentaram e foram recebidos em rítmo de música. A oficina
proseguir-se-á com uma troca de experiências, um diálogo entre os
participantes, contando com o depoimento dos produtores agroecológicos.
Zé
Pinto, em suas palavras enfatizou a visão dos movimentos sociais sobre a
agroecologia, devemos ter muito cuidado, pois a agroecologia pode ser falada e
defendida até mesmo pelos representantes do capital. A visão dos movimentos é a
de fortalecimento da agricultura familiar, e de produção de alimentos
acessíveis, e que possam corresponder aos anseios do povo pobre e sofredor, por
alimento, e alimento saudável.
O
agricultor José Silva (do Projeto Natureza Viva), iniciou sua fala perguntando
qual o significado da palavra agroecologia, essa palavra bonita o que diz para
nós? Agroecologia quer dizer casa, nossa casa, como estamos cuidando da nossa
casa? Ao começar contar sua trajetória
de agricultor disse que, a introdução do veneno após a Revolução Verde, a
desvalorização e posterior perca dos costumes e tradições que os nossos antepassados
viviam. Sentiu e viveu as transformações desse processo, quando em fim teve a
oportunidade de participar de um curso, onde lhe fora apresentado a proposta da
agroecologia, e pode visualizar os prejuízos, as consequências desse modelo de
produção convencional.
Com
essa experiência José Silva, junto de sua Família decidiram dizer não ao modelo
convencional, ao agrotóxico, e começou a trabalhar a agroecologia, a se
apropriar dos instrumentos, de suas bases para produzir.
Explica
a proposta do modelo convencional, e os meios que temos para não tornar
necessário seu uso. Temos meios que a própria natureza nos oferece para fertilizar
nossos solos, sem nos tornar dependentes das grandes indústrias produtoras de
insumos. Um exemplo do que se utiliza são as leguminosas, em especial a mucuna
preta, consorciada, ou utilizada no pré-plantio. Quando iniciei o uso da
leguminosa, nosso solo precisava de 06 a 07 toneladas de calcário, usando
leguminosa, em 04 anos conseguimos zerar essa taxa. As leguminosas são nosso
calcário que a gente precisa, são nossas amigas e eu não as abandonos jamais.
Eu sou tipo morcego, aonde eu vou levo sementes e procuro também levar sementes
pra casa.
Com
a participação da plenária uma exposição buscou evidenciar o processo que nos
desestruturou, e tornou grande parte dos agricultores dependentes de insumos.
Um processo apoiado pela mídia, e que as pessoas se tornaram adeptos pela
sensação de facilidade que ele oferecia. Só que as consequências vieram ao
mesmo tempo em que esse modelo convencional ganhava espaço a população adoecia.
José Silva ainda acrescenta a
importância de terem um grupo local com trabalhos voltados a agroecologia, com
um trabalho em especial com o café. Sobre o modo de utilização das leguminosas,
elas têm suas especificidades quanto a que cultura vai preceder ou dividir
espaço, a qualidade da terra, e a espécie de leguminosas.
Na
experiência citada por Roberto monitor da EFA de São Francisco do Guaporé, o
trabalho da escola está voltado à produção agroecológica. Sobre as leguminosas
explica serem elas aliadas a todos que desejam praticar uma agricultura
ecológica e sustentável, por realizar a recuperação do solo, que muitas das
vezes já foi atingido por esse convencional e se encontra degradado. Assim como
o ser humano que se tornou um ser
químico. Ainda cita a importância da manutenção do equilíbrio natural, existem
as receitas naturais, que podem estar sendo utilizadas, mas é importante
perceber que a natureza não é nossa inimiga. Nesse momento foram sendo realizadas
trocas de receitas e experiências.
Letícia:
expõe a necessidade de que as pessoas busquem realizar suas próprias experiências,
pois o que é praticado em um determinado lugar pode não se adequar a realidade
de outro. As receitas são uma base, mas não é algo imutável, é preciso utilizar
aquilo que se tem a disposição.
Américo
(agricultor do Projeto Terra Sem Males) reafirma a importância do agricultor se
tornar cientista dentro de sua propriedade, a aproximação e observação da
natureza, e como isso valoriza o seu trabalho. O agrotóxico, não mata apenas
plantas e insetos, mata pessoas, mata a cultura, cria o individualismo, e a
descrença no conhecimento popular. “A beleza não está no objeto, mas nos olhos
de quem a vê”, as vezes olhamos a natureza, as plantas, como mato, algo
insignificante. Quando você se aproxima da agroecologia, passa a ver Deus em
todas as coisas, e enxergar através desse olhar diferente a beleza e a
utilidade de tudo que há na natureza. Os conhecimentos populares foram
desvalorizados e desacreditados, porque não oferecem valor para o sistema
capitalista, e o que a ele interessa é o valor financeiro da coisa. Nesse
sentido assumiu-se o compromisso de realizar as feiras livres, para oferecer
aos consumidores aquilo que tem disponível em suas propriedades. Hoje são 23
famílias envolvidas no processo, que passa por um caixa único e avaliação do
grupo. A importância dessa experiência não está necessariamente no ganho
financeiro, mas na troca de produtos entre os agricultores, todos têm de tudo
para se alimentar, conhecendo de onde vem cada produto. A união de produtores,
além de possibilitar a realização da feira, como uma fonte de renda, ainda
permitiu agregar valor aos produtos, através do beneficiamento. Outra vantagem
foi o envolvimento das famílias no processo produtivo, crianças, mulheres,
jovens e adultos participam das feiras.
Na plenária, a exposição da condição
da Bolívia, onde há uma produção quase que exclusivamente convencional, com a
utilização de químicos. Particularmente entende que a produção orgânica é o
melhor para a saúde. Assim tem a intenção de implantar um projeto nesse
sentido, apesar das dificuldades, por estarem em uma área extrativista, sem
incentivos a produção. Lamenta que não houvesse mais pessoas de outras nacionalidades
presentes para conhecer a proposta agroecológica. Apesar da produção orgânica
no país ser quase que insignificante, o importante é que estão iniciando,
admira a capacidade de utilização da terra de alguns países, em Bolívia não
estão tendo esse aproveitamento, e entende que a terra é para produzir.
Lucimar
(MST) trás a experiência de recuperação de uma área degradada. Para os
camponeses produtores, precisam separar o que é agroecologia e agricultura orgânica,
pois esta pode ser realizada em qualquer canto, por qualquer um, já a agroecologia,
é um modo de vida, que visa a garantia da sustentabilidade do agricultor e da
terra. A agroecologia depende de observação da natureza para compreensão e
utilização de acordo com as necessidades, e possibilitando um equilíbrio
natural.
A
agroecologia tem grande importância também para a conquista da terra, criando
uma nova perspectiva para aqueles que estão na busca pela terra. Não temos
necessidade de utilizar produtos de mercado, temos como utilizar o que a natureza
nos oferece.
Para
Zé Pinto, fazer agroecologia depende de amor a terra, a natureza e as outras
pessoas, lutaram contra um sistema que torna nossos aliados inimigos, nossa
visão frente à natureza precisa ser de aliados, companheiros. Por isso todo o
trabalho inicia pela recuperação e busca de equilíbrio do solo.
Dona
Fátima (Terra Sem Males – Cacoal), inicia uma apresentação dos trabalhos que
vem sendo realizados por sua família e agricultores na região de Cacoal
Rondônia, a fim de divulgar o que vem sendo praticado. Apresentou imagens das
oficinas realizadas com as famílias.
Houve
várias intervenções da plenária como dúvidas com receitas e de como fazer uma
compostagem, como fazer queima de ossos...
Os
expositores foram respondendo cada dúvida, conforme suas experiências.
Por
ultimo, Roberto falou sobre a importância de se alimentar corretamente, usando
frutas e verduras. A importância de cada fruta e a forma que elas devem ser
comidas. Um exemplo errado de ser comer a fruta é comê-la após as refeições como
sobremesas. As frutas devem ser comidas de preferência antes das refeições,
assim como as verduras. Não se deve ingerir líquido gelado, nem durante, nem
após as refeições, o ideal é ingerir algo quente após as refeições, como o chá
por exemplo.
Foi perguntado se o café poderia ser
ingerido após as refeições, ele respondeu que sim, por ser quente.
Foi
sugerido pela plenária em está formando uma rede de agroecologia, onde eles
possam trocar essas experiências e aplicá-las.
Foi
feita uma avaliação da oficina onde todos disseram que foi um momento muito
rico de experiências e aprendizado, e que essas experiências têm que serem
ampliada.
Em
clima de alegria e com a oração do Pai Nosso, rezado em circulo, encerrou-se a
oficina.
Por: Liliana Won Ancken dos Santos e Maria Petronila Neto
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